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sábado, 13 de janeiro de 2018

EMBOSCADA

 


Arquivo GNR

 

 "Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os Estados sociais, os corporativos e o Estado a que chegámos..."

Salgueiro Maia




Este dia 12 de Janeiro de 2018 vai ficar registado como um triste exemplo do "Estado a que chegámos". Um Estado demissionário dos seus deveres de protecção do cidadão e dos seus bens, antes transformado num Estado incumpridor e cúmplice de esquemas manhosos políticos e económicos lesivos para si próprio, ou seja, para nós todos, portugueses.
Os esquemas são muitos, mas hoje refiro-me àquele que resulta na prática a uma perseguição à Animação Turística.

Neste dia solarengo de Inverno, 30 viaturas 4x4 transportavam os participantes num evento corporativo em direcção à sua aventura com início em Palmela. No último troço da A2 reparámos em algumas viaturas da BT em passagem ou na berma, a última das quais à saída da estação de serviço. Comentou-se até que devia passar-se alguma coisa para tanta movimentação. E passava!...
Depois de sairmos da A2, na N379-2 com a N379 surgiu-nos um aparato de meia-dúzia de viaturas da BT e um pequeno "exército" de agentes. Eu que seguia á frente da coluna e que queria ir para a N379, fiz sinal e encostei-me à esquerda, levando os outros atrás, o que provocou a primeira situação... caricata: três agentes atravessaram a via a correr para nos bloquear o caminho e indicar a berma. Alguém comentou: - Ena! Isto parece uma emboscada! Estão com medo que escape algum?...
Parei na berma. Ainda só estavam visíveis 4 dos que me seguiam, quando o agente me diz: - Chegue mais à frente para caberem os que aí vêm. (?...)
Estranho... mas eu na minha inocência parva ainda pensava que... pronto! Tinha-me calhado hoje a mim!
Enquanto mostro os documentos, o triângulo, o colete e o agente conta os meus passageiros, aprecebo-me que estou entalado numa selva de jipes amontoados em terceira fila. Mandaram parar todos! Gerou-se um caos com carros a apitar e pessoal a reclamar. Os agentes chamam reforços. Resposta via rádio:
- Mas... há violência?
- Não! Só confusão... é que é muita gente.
Os portáteis nos veículos da BT começaram a cuspir papéis. O agente que me atendia pediu-me que o acompanhasse e com um ar solene diz-me:
- Sabe, temos um problema no seu veículo.
- Que problema?
- A capota é branca.
Achei que era uma piada para descomprimir do ambiente tenso e ruidoso.
- E então? Sempre foi branca.
- Não pode. Tinha que ser verde. Vai ser autuado. Paga já ou retenho os documentos... você é que sabe!
Entretanto, ao lado deste agente, outro, menos educado e algo agressivo, pára de teclar a multa de outro perigoso prevaricador para me perguntar em rajada:
- O carro é seu? Isto é um evento? Estão-lhe a pagar?
A minha tampa começou a querer saltar. Contei até um número razoável e respondi com um sorriso cristão:
- Não! São todos meus amigos...
- Você está-me a gozar?
Mantive o meu sorriso cristão.
- O que é que o sr. agente acha?
A coisa começou a azedar. Fui novamente ao carro buscar as papeladas, registos, actividade, seguros. A papelada manteve o sr. agente ocupado durante bastante tempo. Tempo que aproveitei para me dirigir aos outros e constatar que ninguém escapava ao metralhar constante.
- Você está autoado pelos pneus.
- Estão nos 15% de tolererância, sr. agente.
- Humm... então está autoado pelos faróis na grelha.
- Mas, oh sr. agente, os faróis são estética, não funcionam.
- Não tem um botão para ligar?
E abrindo a porta do veículo, convida:
- Faça favor de carregar os botões todos...
Dois veículos à frente:
- Este mata-vacas é proibido, sabe?
- Mas é de origem, sr. agente.
- Pois, vai dar multa e apreensão, sabe?
Ao lado:
- (...) e também não tem cintos atrás...
- Não é obrigatório neste carro.
- Pois... vai ser autuado.
É uma "zona de guerra". E as "baixas" são pesadas. O tempo passa e os nossos horários estão comprometidos. Dirijo-me a um agente que, de mãos atrás das costas, parece apenas vigiar o perímetro e refiro a necessidade de apressar as coisas ao que ele me responde:
- A quinta não foge!
O meu queixo caíu.
- Quinta?
- Ou lá o sítio para onde vão... não foge!
Pois, está visto.

Mais comentários e análises, vou-me abster de fazer. Apenas deixo este relato dos acontecimentos de hoje, mais um dia de trabalho arrancado a ferros mas que termina com um sempre gratificante:
- Muito obrigada. Foi fantástico! Só foi pena não termos visto o pôr-do-sol lá na Arrábida. Mas a culpa não foi vossa. Obrigada.

Quem se anda a vangloriar da recuperação económica, sabe qual a parte que deve às Empresas de Animação Turística.
É feio morder a mão que nos alimenta...